domingo, novembro 2

VIDAS VULGARES...

"Ela teve necessidade de se ir embora.
Já chegava, foram anos e anos tratada como se não existisse.
Pusera fim à sua caminhada mortificada de mulher e mãe.
Saiu de casa sob escolta policial…
Queixou-se.
Queixou-se por que fora durante anos Vitima de Violência Doméstica, porém o seu pranto esbarrara contra o arquivamento processual…era uma dor lancinante. Fora vitima. Mas como o crime é surdo, mudo e praticado na masmorra do lar, via-se agora presa a um arquivamento.
Procurou auxilio, as Associações de Apoio à Vitima não procederam à abertura de instrução, não estão vocacionados para tal…
Pôs nas mãos de estranhos a sua vida, abrira a porta da sua privacidade e ali estava num escritório de advogados despida na sua honra pois havia sido arquivada a sua queixa e apenas ganha € 600 (seiscentos euros) de remuneração. Trabalha para o Estado e ele recorreu para ter apoio, mas a resposta foi negativa. O argumento foi o seguinte “por se encontrar a estudar, não preenche os requisitos pois quem tem carência não pode estudar”.
Brade-se aos céus.
Ganha €600 como secretária, saiu de casa com a roupa de casa e um filho menor de 12 anos, vive de favor na casa de parentes onde partilha o sofá cama da sala com o seu filho adolescente…mas estuda. Estuda para poder ter mais um instrumento de progressão profissional. É secretária camarária, mas carece de mais para aspirar a um salário que lhe permita sobreviver e zelar pelo seu filho.
Mas além do arquivamento da sua queixa, como se o crime não existisse, ainda se vê limitada no apoio do seu patrão."

Esta é uma das muitas realidades nacionais em que o apoio social do estado devia intervir de forma positiva e não o faz…mais uma brecha a colmatar.
Onde fica o direito à formação, à educação e ao trabalho...para não falar sobre o direito à defesa neste tipo de situações em que o agressor dorme com a vitima sem testemunhas.
Autor: Maria Manuel

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